PRIMAVERA DE PAPEL CREPON
Eu detesto tuas palavras tão corretas,
tua filosofia que se perde no vazio
de um punhado de palavras bem arranjadas,
eu odeio tuas sábias e medidas palavras
que me pregam na parede, me esfolam a carne
e esvaziam ainda mais a minha alma...
O pássaro negro, black bird, l'oiseuax noir,
portador de maus presságios está pousado
ali naquele ramo de árvore do meu jardim
e me olha dizendo que eu não espere mais nada
que eu corte e recorte tudo que senti e sonhei!
Ó pássaro negro da minha vida,
você está aqui pra minha morte;
você exige o meu infortúnio
e num certo jardim onde cresci,
numa primavera de papel crepon,
num canteiro de flores artificiais,
lá não havia verdadeira vida,
havia somente morte travestida
de esperança e amor,
havia somente mau agouro e dor
vampirizando minha inocência...
Ó infame besta que me deu seu dorso
para montar e sair em vôos doidos,
ó meretriz das velhas e torpes falácias
você me sorriu e disse que este
rio me levaria àquele mar!?!
Adoçou meus lábios com o mais doce mel
e me embalou em seus braços de falsa mãe
nestas tardes de céus deslumbrantes
de ipês em floradas extasiantes.
Oh mãe madrasta que me embalou
com braços enganadores
que fizeste com minhas brancas asas
enquanto eu dormia pensando sonhar?