PRIMAVERA DE PAPEL CREPON

Eu detesto tuas palavras tão corretas,

tua filosofia que se perde no vazio

de um punhado de palavras bem arranjadas,

eu odeio tuas sábias e medidas palavras

que me pregam na parede, me esfolam a carne

e esvaziam ainda mais a minha alma...

O pássaro negro, black bird, l'oiseuax noir,

portador de maus presságios está pousado

ali naquele ramo de árvore do meu jardim

e me olha dizendo que eu não espere mais nada

que eu corte e recorte tudo que senti e sonhei!

Ó pássaro negro da minha vida,

você está aqui pra minha morte;

você exige o meu infortúnio

e num certo jardim onde cresci,

numa primavera de papel crepon,

num canteiro de flores artificiais,

lá não havia verdadeira vida,

havia somente morte travestida

de esperança e amor,

havia somente mau agouro e dor

vampirizando minha inocência...

Ó infame besta que me deu seu dorso

para montar e sair em vôos doidos,

ó meretriz das velhas e torpes falácias

você me sorriu e disse que este

rio me levaria àquele mar!?!

Adoçou meus lábios com o mais doce mel

e me embalou em seus braços de falsa mãe

nestas tardes de céus deslumbrantes

de ipês em floradas extasiantes.

Oh mãe madrasta que me embalou

com braços enganadores

que fizeste com minhas brancas asas

enquanto eu dormia pensando sonhar?

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 10/10/2007
Reeditado em 23/05/2011
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