PERDIDO
É.
AFINAL,
O QUE TENHO A PERDER?
FAÇAMOS AS CONTAS!
SE É QUE HÁ O QUE SE CONTAR...
(SIM, SEMPRE HÁ O QUE SE CONTAR!
TENHO UMA VASTA LISTA DE PERDAS A SOMAR!)
COMECEMOS PELO SONO.
ESTE FOI O PRIMEIRO QUE PERDI.
COM ELE ABANDONARAM-ME OS SONHOS.
PRIMEIRAMENTE OS DO SONO,
QUE É ONDE HABITUALMENTE ELES VIVEM.
POSTERIORMENTE FORAM-SE
OS SONHOS COTIDIANOS.
DE INÍCIO, OS MENORES,
SEM GRANDES PRETENÇÕES DA ALMA.
E EM SEGUIDA,
OS GRANDES SONHOS...
...OS DA VIDA E OS D’ALMA.
PERDI DEPOIS O SORRISO,
LARGO E FARTO
COMO O DA CRIANÇA QUE FUI.
PERDI A VONTADE DE BRINCAR,
A VONTADE DE ABRIR AS JANELAS PELA MANHÃ,
A VONTADE DE CONTAR E OUVIR PIADAS,
A VONTADE DE ROUBAR FLORES DE JARDINS PARTICULARES,
DE VER O PÔR DO SOL,
DE CONTAR ESTRELAS,
DE ESCULPIR NUVENS.
MAS,
VAMOS COM CALMA,
PARA QUE NÃO SE PERCA A CONTA!
AFINAL, POSSUO UMA VASTA LISTA DE PERDAS A SOMAR...
(PELO MENOS POSSUO ALGO AINDA!)
DEPOIS, PERDI O OLHAR
CONFIANTE E VORAZ...
ÁVIDO POR DEVORAR
TODAS AS IMAGENS DO MUNDO.
HOJE VEJO TUDO COM INDIFERENÇA,
ASSIM COMO QUEM PERDEU A PERSPECTIVA DAS COISAS.
MAS, DE FATO, NÃO FOI ISSO
EXATAMENTE QUE SE DEU?
POIS ENTÃO,
SOMA-SE AÍ MAIS UMA PERDA!
MAS A GALERIA DE MINHAS PERDAS
AINDA NÃO TERMINOU.
PROSSIGAMOS!
PERDI DIAS E NOITES:
HORAS SEM FIM DEBRUÇADO À MESA
DAS CERTEZAS SEPULTADAS.
E FOI ENTÃO QUE PERCEBI
QUE HAVIA PERDIDO
TAMBÉM MINHAS CERTEZAS.
E EIS QUE,
ASSOMBRADO,
VEJO-ME PERDER
MITOS E CRENÇAS
E RITOS...
PERCEBO AINDA
SOB ASSOMBRO,
O SILÊNCIO DAS COISAS
E DESCUBRO QUE
MÚSICAS E RETRATOS
E LIVROS E VERSOS
SE FORAM DE MIM...
PERDI-OS TAMBÉM.
PERDI DEPOIS
O APETITE DAS COISAS NOVAS,
O PALADAR DAS SUPRESAS,
O AROMA DOS TELEFONEMAS,
O TATO DOS APITOS DE TRENS,
O PRAZER DAS JANELAS...
UMA A UMA,
CADA PERDA FOI
CONFIGURANDO-SE,
MOLDANDO-ME ESSA FORMA DISFORME.
E FUI FICANDO ASSIM:
CADA VEZ MAIS TORTO,
CADA VEZ MAIS ERRADO,
CADA VEZ MAIS PERDIDO.
EIS ENTÃO!
CONCLUÍ:
A ÚLTIMA COISA
QUE PERDI
FOI A MIM MESMO,
DENTRO DE TI...