A FAMA POR LENTILHAS
Subiu aos píncaros da fama
Por sucessos e maravilhas
Hoje escarafuncha na lama
Pelo excesso das lentilhas.
Frágil como qualquer criança
Em ágil corpo a arder em chama
Qual cavaleiro de esperança
Subiu aos píncaros da fama.
Aprendeu lides em Monforte
Fez-se perito em armadilhas
Ganhou prestígio e bom porte
Por sucessos e maravilhas.
Ganhou troféus e até comendas
Fez jus à boa dinheirama
Humilhando-se em reprimendas
Hoje escarafuncha na lama.
Prestigiado em grandes feitos
Com rodeios e bandarilhas
Saiu perdedor dos seus direitos
Pelo excesso das lentilhas.
Antes de Moura, depois de Moura,
Desenvolve-se a tauromaquia,
Mas o destino, marcando a hora,
Deixou cair a fidalguia.
Porém, outra aventura surgiu,
E com foros de mala pata
A corrida dos galgos floriu,
Sem investir ouro nem prata.
- Venham daí umas lentilhas,
Dão força e não fazem engordar,
Os galgos devoram as milhas
Das corridas que querem ganhar…
- Ai galgos, e outros que tais,
O que comeis é por paixão,
Mas estranho os vossos sinais
Que vejo com preocupação!
- Ai Moura, Moura, comendador
De um cavalgar castiço e fundo,
Ostentaste a tua arte maior
E hoje andas na boca do mundo.
- Eu sei que não és Instituição
Mas foste herói, foste tortura,
E dói-me saber, com desilusão,
Que és cavaleiro de triste figura.
- Estão rindo os teus detractores
Pelo teu lamentável trato…
Tira os galgos das suas dores
Tirando as pedras do teu sapato.
- Isto não vai lá com lentilhas
Mas vai, porém, com dignidade.
E, não havendo novas guerrilhas,
Acabarás com a crueldade!
Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA