Assim é um resquício da vida

Bebo numa madrugada fria

Uma xícara de café, amargo e frio:

Assim é a vida.

Olho pela janela a seda negra de um céu

Silencioso e sombrio:

assim é a existência.

Um gosto de fel na boca

Quando busco uma viva alma

Que possa caminhar pelas ruas e avenidas

De uma cidade vazia e gélida:

Assim é o ser humano.

Escrevo num papel velho

Rascunho de um poema alegre

Mas minha alma é triste

Sem lirismo e floreios de apaixonado:

Assim é um poeta lacônico.

Vejo numa miragem surreal

Livros escanteados num chão sujo

Estantes vazias sem histórias e sem mundo;

Alguém sorrindo e destilando veneno:

Assim é o ser espírito de porco.

Um comboio espremido nas montanhas

Levando corpos vivos para o matadouro.

E o gosto seco que faz cegar e esquecer

Que um dia aquele céu nublado

Foi testemunha do terror humano:

Assim é o Homem vil e orgulhoso.

Luciano Cordier Hirs
Enviado por Luciano Cordier Hirs em 21/02/2020
Reeditado em 21/02/2020
Código do texto: T6871053
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