Assim é um resquício da vida
Bebo numa madrugada fria
Uma xícara de café, amargo e frio:
Assim é a vida.
Olho pela janela a seda negra de um céu
Silencioso e sombrio:
assim é a existência.
Um gosto de fel na boca
Quando busco uma viva alma
Que possa caminhar pelas ruas e avenidas
De uma cidade vazia e gélida:
Assim é o ser humano.
Escrevo num papel velho
Rascunho de um poema alegre
Mas minha alma é triste
Sem lirismo e floreios de apaixonado:
Assim é um poeta lacônico.
Vejo numa miragem surreal
Livros escanteados num chão sujo
Estantes vazias sem histórias e sem mundo;
Alguém sorrindo e destilando veneno:
Assim é o ser espírito de porco.
Um comboio espremido nas montanhas
Levando corpos vivos para o matadouro.
E o gosto seco que faz cegar e esquecer
Que um dia aquele céu nublado
Foi testemunha do terror humano:
Assim é o Homem vil e orgulhoso.