Melancolírica (inexisto em mim)
o café: morno.
a alma: quente.
a mente tudo esfria
enquanto o peito ainda sente.
fumegante,
torto,
desajeitado,
seus pedaços
tolos,
largados,
completamente espalhados
por tudo quanto é lado.
mal percebo
e já são duas,
três.
doze.
dezesseis.
um tique-taque ritmado
demasiadamente acelerado;
já não o vejo...
tal sentimento, admito:
desconheço.
a ordem,
o jeito.
o caos
e o desespero:
ignoro;
mas, num lampejo,
misturo.
o gole final,
intenso, fatal
me propõe:
a todos engulo.
pouco importa
se foi belo, surreal;
às vinte e três, inexisto.
foi uma grande explosão:
nada restou.
mas o estrondoso silêncio
no qual finalmente habito,
a mim, reinventou.