Melancolírica (inexisto em mim)

o café: morno.

a alma: quente.

a mente tudo esfria

enquanto o peito ainda sente.

fumegante,

torto,

desajeitado,

seus pedaços

tolos,

largados,

completamente espalhados

por tudo quanto é lado.

mal percebo

e já são duas,

três.

doze.

dezesseis.

um tique-taque ritmado

demasiadamente acelerado;

já não o vejo...

tal sentimento, admito:

desconheço.

a ordem,

o jeito.

o caos

e o desespero:

ignoro;

mas, num lampejo,

misturo.

o gole final,

intenso, fatal

me propõe:

a todos engulo.

pouco importa

se foi belo, surreal;

às vinte e três, inexisto.

foi uma grande explosão:

nada restou.

mas o estrondoso silêncio

no qual finalmente habito,

a mim, reinventou.

Ana Fiuza
Enviado por Ana Fiuza em 17/01/2020
Código do texto: T6843728
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