AGULHA, PONTA E LINHA

Entre agulha, ponta e linha

Vive o romance esquisito

De um triângulo sem visco

Que sempre finda aflito.

A ponta é da agulha. E a linha?

A linha, sempre sempre sozinha,

Vive à procura do amor

Que no outro amor se encontrou.

A agulha, bem de metal,

Segue os passos da sua ponta,

A que lhe abre o caminho

E vai tecendo suas estampas;

A que lhe chega de mansinho

E, com jeito, devagarzinho,

Passa aqui e passa ali

Sem lhe fechar o caminho.

A agulha, "enrejizada",

Sem precisar pensar em nada,

Segue o caminho certinho

Da ponta que lhe mostra a estrada.

A linha, essa sorrateira,

Vive atrás da agulha faceira

Que segue seu lindo curso

Sem se lhe envergar nem um pouco.

A linha, sem se dar conta,

Vai deixando de perceber

Que o caminho em que ela se encontra

A ponta já esteve a fazer.

E ela, a linha malvada,

Sem se sentir resignada,

Segue tonta, feito cega,

Seguindo o caminho somente

Que a ponta da agulha carrega.

Assim são as relações

Que se estendem a três corações:

A ponta conduz o caminho,

Traçando sozinha o destino.

A agulha segue a vida

Despreocupada e destemida.

A linha, que vem perdida,

Só serve pra fechar saídas.

Aceite ser uma agulha

E não se curve facilmente.

Aceite ser uma ponta

Que da agulha está à frente,

Mas não aceite ser linha

Que, sempre sempre sozinha,

Percorre, sem nem um adeus,

Um caminho que não é seu,

Porque a ponta e a agulha

No mesmo caminho seguem

E deixam sempre para trás

A linha que, na roupa que faz,

Sozinha em si se perdeu.

Nara Minervino
Enviado por Nara Minervino em 20/12/2019
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