Eu...

Eu

Que não sou ninguém

Te dei tudo

E fiquei sem nada

Eu

Que nunca te pedi nada

Lhe ofereci flores

E recebi uma caixa horrenda

Cheia de vazios

Escura

Maior que todas as zonas abissais

De todas as zonas

Eu

Que nunca prestei

Te emprestei meu colo

Meu afeto

Que foram devolvidos

Em pacotes de azar

Numa mesa de jogos

Com cartas expostas

O tanto que perdi?

Nem me dei conta

Quando veio a conta

Da cartada final

Eu

Que sou leiga

No quesito amor

Fiz um poema

E reguei com flor

Que criou espinhos

E me furou

Como uma roca

Que como nos contos de fada

Adormeci por 100 anos

Me senti infantil

Quando acordei já era tarde

Todos se foram

Só restou eu

Logo eu

Que não sei conviver com a solidão

Que cisma em me abraçar desesperadamente

E a querer dividir comigo

Taças de vinho

E a compartilhar doses de loucura

Logo eu

Que nunca fui sã

Sempre fui poeta.

Cristal Castro
Enviado por Cristal Castro em 23/11/2019
Reeditado em 30/11/2019
Código do texto: T6802067
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