Aplauso Vazio
Num tablado iluminado se sonha, sob o calor do foco realiza-se uma vida de cenas partidas. O eterno presenteia a humanidade num gesto de infindável segundo, decorado em enredos bem cuidados pelo tempo, estreando ao desabrochar dos dons.
Princípios, ensaios, marcação preparada em união sem palavras, olhares refletem a platéia com sabor de nunca abandonar a arte. Vive-se a vida num palco, estrelando em toda novidade, colocando de improviso uma ação inesperada de sentimentos reais.
Onde está a emoção? Fecham-se as cortinas sem aplauso, de cada ator o objetivo é sem par, igual só mesmo o corpo em que habita a intenção de jamais deixar morrer o espetáculo. O fogo que move é uma poltrona em gargalhadas.
E depois é conformar-se, preparar-se ao outro dia, o show não pode parar, outras pessoas ainda vão lhe ver! E todo amor se mostra em um lugar vazio, no público perdido sem um olhar de resposta.
Uma pessoa toda nova em ideais nasce a cada final feliz, cada palma grita um absurdo, sem figurino e maquiagem é mais difícil sentir. As cortinas fecharam, e o lugar vazio continuará por todas as noites, sem amor ou espetáculos, somente um corpo respondendo artifícios.
Infeliz, sem espetáculos, focando um lugar vazio, uma poltrona que não ri, mais uma alma que não existe.
Douglas Tedesco – 10/2007