Desenfreada
Mais uma vez ela chegou.
Inabalável, imbatível.
Um trem desenfreado, destruindo qualquer plenitude que fora construída.
Talvez um dia ela venha pela última vez, mais forte que nunca, e leve tudo consigo.
Enquanto esse dia não chega, a reconstrução parece inevitável, ainda que sob pilares comprometidos.
Enquanto ainda é possível.
Enquanto ainda há força para recolher os cacos.
Enquanto as feridas ainda são suportáveis.
Enquanto ainda há algo que justifique a batalha.
Mas a derrota se aproxima, as feridas são cada vez maiores, os cacos mais fragmentados e a força exponencialmente menor.
Talvez nesse dia, da derrota, celebraremos. Festejaremos leves a noite toda, e quando a manha chegar, em meio aos destroços, não haverá ressaca, o sol será brilhante e o ar fresco.
As estradas indicam esse caminho.
Eu só quero festejar contigo, entre destroços, a madrugada toda. Só quero repousar em ti, olhando para o brilho do sol, respirando o ar fresco da manhã.
Enfim, definitivamente derrotado, descansar, em ti.