PEQUENO DESABAFO À MEIA-NOITE E DEZ
Flores brancas na madrugada
pétalas em suave queda
sobre tuas mãos tão pálidas
de dentro das torres deste castelo
esta música invade o espaço
e somos tão frágeis em nossas
esperanças
e somos tão pobres em nossas
pequenas idiossincrasias
o relógio já deu as doze badaladas
e você ainda está aí olhando
sem nada ver
suspensa em intenções tão vagas
olhando os carros lá embaixo
suspensa na janela do décimo quinto andar...
você já ouviu dezenas de vezes a
mesma música e mesmo assim
não consegue encontrar uma forma
de fugir desta beira de precipício
e nem todos os cálices de vinho
vão aliviar esta dor pontiaguda
que se cravou em teu peito
tendo passado tantas vezes
diante da mesma porta
e tantas vezes não tendo tido
a coragem para entrar
Deus salve as travas que
te impedem de transgredir
e o diabo que permita
a você uma morte rápida
pois que se pela vida tens passado
sem estremecimentos
que tua morte não permita
o vislumbre de convulsões nunca
alcançadas.