Sonhos
Em toda minha vida
Tudo o que vi
Foi tudo passar
E nada mais eu quis
Do que apenas parar
Deitar em paz
Em alguma clareira afastada
Longe de olhos e palavras
Alquebradas e afiadas
Afastar-me do tempo
Afastar-me do atraso
De necessidades ilusórias
Da interminável cadeia
De eventos inoportunos
E atitudes insatisfatórias
Mas tudo que até hoje consegui
Foi aflição e desorientação
Eu ainda vejo tudo passar
Vejo meu coração morrer
Vejo tudo em minha mente desmoronar
Mas não vejo saída
Não vejo salvação
Estamos todos sozinhos
Rastejando com ratos
Cegos e dissimulados como serpentes
Lambendo restos sujos dos esgotos
Dos becos escuros e das luzes de neon
Sepultados sob uma mortalha de fumaça
Nenhum alento ou esperança
E em meus sonhos enlouqueço
Ouço passos ecoando em ruas de terror
Em histórias de morte e lágrimas
E ainda sim esses momentos nebulosos
São preciosos momentos de verdade
Uma trégua num discurso de quedas sem fim
De calor num peito dilacerado
Nos momentos em que esqueço
E anuncio que não mais voltarei
Onde o sentido não importa
Onde o relógio não tem voz
Onde não há futuro e não há restrições
Se minhas palavras se esvaíssem e pudessem rasgar
Invocar o vermelho e inundar a imensidão destas lúgubres planícies
Conseguiria eu alguma cor nesta agonizante e estática escuridão?
Poderia então a verdade irromper furiosa desta silenciosa solidão?