o último poema
Vendo pontos negros a sujar o horizonte
O homem encostado na árvore segurava diante de si
Manchado de sua própria vida que minguava
Alvo papel marcado de caligrafia caprichosa
Suas mãos tremiam e sabia que não conseguiria
Terminar a última linha de seu último poema
O brilho daqueles olhos que o agarrava com garras de ferro
Não permitiria seu mais íntimo sentimento se expressar
Em meio ao cheiro da chuva
O vazio antigo o devorou
De seus lábios sangrentos
Um único nome era soprado aos céus
E quando o vento calmamente passou
Carregando consigo uma luz belamente banhada em tristeza
Os pássaros se calaram, a chuva se recusou a cair
Pois quem olhasse naquele instante com atenção
Veria o sentido da vida se anunciar
No singelo ato de desistir