O desprezo é amargo
Maria Antônia Canavezi Scarpa
Nada é mais amargo
que uma taça de desprezo,
servida com uma pedra refrescante de esquecimento
para ajudar efervescer uma maquiada verdade,
essa sim, do caminho sem volta
onde passa a minha fiel solidão
que exala um cheiro de audácia,
quando oferecida, em uma bandeja a distância
Os olhos inquietos, querem parecer fortes
segurando as lágrimas, para que a expressão
permaneça forte com a derrota,
num ato quase impossível,
já que dentro de um peito amorfo
permanece uma alma que se debulha em prantos,
para acalmar o coração dilacerado
A ausência é um ópio que destrói
risíveis sentimentos, tecidos de meras ilusões,
que foram alimentadas com doses pequenas,
de breves esperanças e quando elas fenecem
tudo ao redor se transforma,
em um grande momento efêmero;
quando o sonho chega ao fim
Doendo, doendo, ficam-se os lábios sem sabor,
sem o calor das palavras sussurradas;
visivelmente queimados por uma louca paixão,
diluída no fel,
para ir respingando em cada pedacinho
do meu caminho, rumo ao meu destino
onde permanece a minha fiel solidão
Sensível demais, começo uma viagem sem volta
onde todos os desejos foram-se calando,
com apenas um gesto sem adeus,
simples e fatal; não pronunciou -se uma palavra,
o amargor foi a ausência e nada mais,
com uma taça ainda borbulhando cheia...