Um dia serei algo

Nem que seja um derrotado

Um homem sozinho, isolado

Astuto, instável, inconsolado

Fora de si, louco, transtornado

Um verdadeiro desgraçado

Um dia serei algo

Nem que seja um defunto

Ou ainda um conjunto:

terra, lama, pó, rejunto.

As vezes eu até pergunto:

serei eu um consunto?

Um dia serei algo

Há quem diga um mineral

Absorvido por um animal

Internamente, parte visceral

Terei um destino cru e fecal

Serei um efeito colateral

Um dia serei algo

Nem que seja uma memória

Talvez eu entre para história

Triunfarei com a minha glória

Ou apenas, terei uma vida ilusória

Um fracasso, azarado, sem vitória

Um dia serei algo

Nem que seja um sonhador

Um memorável doutor,

Um senhor sem pudor

Ou apenas um desfavor

Para uma vida sem amor

Um dia serei algo

Nem que seja um destroçado

Há quem diga um milionário

Um grandioso empresário

Ou apenas um esfomeado

Em uma rua, desolado

Um dia serei algo

Nem que seja amigaço

Um super-man, homem de aço

Um beberrão, um bagaço.

Ou quem sabe Pablo Picasso

Ou apenas um palhaço

Um dia serei algo

Nem que seja um velho instável

Há quem diga um ditador inigualável

Populista, com caráter formidável

Ou apenas, um pobre velho deserdado

Sem afeto, simplesmente, abandonado.

Um dia serei algo

E assim, com caráter ferrenho

Com esforço, confiança e empenho

Digo a única certeza que tenho:

É que um dia serei algo.

José Rony de Andrade Alves
Enviado por José Rony de Andrade Alves em 22/03/2019
Reeditado em 25/03/2019
Código do texto: T6604380
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.