## CINZAS ##
Engolia covardemente a caligrafia,
sentimentos que na ponta dos dedos
jorrou o que ardia n'algum dia.
Ato excelso, por certo.
Restaram as cinzas
d'um ato falho qualquer,
desses que se vê pelas esquinas,
presos em bêbadas mãos.
Vazia garrafa, motivo de galhofa.
Peito aberto, sangrando ainda,
álcool jogado sobre ferida.
Riso contido, alma perdida.
Madrugada abrasando as horas,
e o dia chama lá fora,
compadece da alma viúva.
Passas num passado de uvas.
Exaurido queima por si,
engolindo seco o vinho tinto,
jogando ao cesto a toalha manchada.
De vazios se repleta; não, não foi nada.
(Taciana Valença)