Medalha de Bronze

Há um caminho perdido entre as tantas avenidas que riscam a terra, feito rugas em velhas faces,mostrando trajetos ,formando projetos ,um rumo torto,um risco certo.

Em volta contorna um rio imenso.No teor das águas o sal é intenso,pois nasce na fonte dos cantos dos olhos que vaza constante no velho da face.

Não há quem não note, passando por perto ,a beleza intrigante da face ,dos olhos do rio,das rugas do velho

E no caminho ,escondido, mora o menino, contido,preso,guardado,roubado da infância,

parado em posição de sentido,cantando hino,fazendo continência .

Arrancaram-lhe o coração e deram-lhe uma grande medalha...

Mas medalha de bronze,e o bronze é bem frio.

Não bate,

Não pulsa,

Não sente,

Não ama...

Quando alguém se aproxima o menino se alegra,quer ser bom sujeito...

Mas o peito é vazio;não tem sentimento

Quer falar,mas não tem argumento,

Estende as mãos tímidas e oferece uma nova medalha...

O frio do metal faz jus ao que vai no seu peito oco e fica atônito a espera do aplauso que nunca vem...

Não há quem assista ao teatro estrelado por um único artista.

O grito é unânime :

Desista,desista

Mas é forte a vontade,é grande o querer...

No oco do peito ecoa a resposta:

Insista ,insista...

O rasgo das rugas cada vez mais profundo...

As águas do rio cada vez mais travessas...

O oco do peito cada vez mais imenso....

As avenidas mostram o sentido do fim

O menino calado ,o tempo passado,o aplauso que nunca chega...

Ouve-se apenas os risos dos outros que vivem distante e zombam constante do velho menino...

“hoje,como quem vê em vão o quanto calou o que devia falar

O quanto falou o que devia guardar

E só vive por que o pulsar das veias é definitivamente irreversível’’ 23/09/1993

Tilo Rezende
Enviado por Tilo Rezende em 16/09/2007
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