LÁGRIMAS DESFEITAS
Rolam ondas na minha praia, desfeitas,
Com as minhas lágrimas tão salgadas,
Que se diluíram nas águas prateadas.
E deixaram o meu sabor sem receitas.
Receitas do meu viver, que guardarei
Para memória futura do que passei,
Sonhos muitos, belos e irrealizados,
De amores anónimos, inconfessados.
Inconfessados todos meus pecados,
Por serem inocentes e imprevisíveis,
Não deixaram de ser assim terríveis,
Deixando-me desfeito em bocados.
Bocados que não tinham qualidade,
Provinham da mais pura realidade,
Vida que me consumiu de repente,
E se tornou deste modo repelente.
Repelente é a vida que vivemos,
Contra a nossa vontade própria,
Por ter sido sem nós querermos,
E que torna a vida menos sóbria.
Ruy Serrano - 22.12.2018