INSTANTE DÚBIO
Daquilo que não pude viver
pude (pelo menos) escrever
e o tempo agora é outro
há apenas vestígio do que poderia ser
(sub)viveu nas letras o desejo profundo
explodindo na pele rasa
eu sempre estive onde não queria estar
e permaneço, mesmo sem estar
amei, na teoria, o que não conheci
meu viver foi práxis da ausência
e arte perdida
permaneci imóvel, inerte
no mesmo lugar sem um fio de luz
e agora o mundo pisca
olho páginas antigas que escrevi
vejo um eu que fui, e que já não o sou
e agora escrevendo esta página
também não sei se sou quem penso ser
eu só estou aqui apesar e além
estou mesmo sem estar
vivendo (talvez) a inércia do ser.