A letra e seu encanto
Fábio Costa
 
E por onde anda a inspiração?
Ganhou asas e foi pousar em outro canto.
Deixou o galho d’minha alma a balançar
Vazio como folha virgem.
 
O encanto das letras dissipou
Os nós que habitavam em mim.
As margens que limitavam a escrita
Foram arrombadas pela tinta fresca.
 
O que seria limite não estancou o furor.
O papel preenchido não reproduz o sentimento
A letra registrada em poesia revela o nada.
 
Então se foi.
Não quis dialogar com o poeta mudo.
Nem olhou para trás com ar de remorso.
Abandonou-o com a caneta nas mãos.
 
Ele a viu voar.
Enxergou seu bater de asas avassalador.
Viu como a inspiração pode chacoalhar
A empedernida alma que sofre.
 
Volta letra minha!
Venha balançar o galho que lhe espera!
Venha mover os dedos atrofiados
E produzir sentido no papel amassado.
 
Toque o coração sentido!
E produza um fio de lirismo acalentador.
Não deixe o poeta viver o inverno
Sabendo que a primavera apenas despontou.