Avidez

Mal chegou e mostrou

O seu mais encantador olhar

Como se tivesse lançado feitiço

Hipnotizada permaneci

E comemorei

Com meu abraço solitário, fúnebre

Agarrado e, quase insano, por todo o quarto

Marcou encontro pela noite

Despiu-me com o seu gesto

Envolvente

E com os vocábulos nus

Dançou com o balançar

Do meu corpo e peito

Jogou-se sobre a sombra do desejo

Prometeu céus e azulejos brancos

São bonitos, quando estão sujos

De vermelho ardente

Fez sobressair o vivo do seu nome

No jorrar de peças adúlteras

O líquido escorrendo por entre lençóis

Que, agora, cobrem rostos

Nasceu o mais nobre do sentir

Seria a beldade

A melhor forma para seduzir?

Ou, talvez, expressões fúteis gritadas

No silêncio da troca

Ocorrida em um ínfimo espaço

De toques tortos e boca cínica

Estava feito

Preferiu o desfecho

Fechou a porta

E fez morrer o desígnio

Proclamou a saída

Para a suposta sorte atravessada

No desespero

Comeu a felicidade

Saboreou o tesão

Bebeu o sofrimento

Alheio

E vomitou ingratidão

Vagou pela madrugada

Como cão sem dono

Coração à mercê da mera ilusão

Encoberta de falsa razão

Onde já é controvérsia

Na sua própria existência, senão diploma

De melhor enganador de anseio

Ateou fogo

No momento passado

Impedindo o futuro almejado

Restaram pedaços

De lugares infiltrados

Pela estupidez

De se estar cego

Riu de liberdade

Sorriu para o vento

Que levantava os seus cabelos

Cumprimentou a vinda

De um novo tempo

Brindou de olhos fechados

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 27/09/2018
Reeditado em 19/05/2019
Código do texto: T6460701
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