Avidez
Mal chegou e mostrou
O seu mais encantador olhar
Como se tivesse lançado feitiço
Hipnotizada permaneci
E comemorei
Com meu abraço solitário, fúnebre
Agarrado e, quase insano, por todo o quarto
Marcou encontro pela noite
Despiu-me com o seu gesto
Envolvente
E com os vocábulos nus
Dançou com o balançar
Do meu corpo e peito
Jogou-se sobre a sombra do desejo
Prometeu céus e azulejos brancos
São bonitos, quando estão sujos
De vermelho ardente
Fez sobressair o vivo do seu nome
No jorrar de peças adúlteras
O líquido escorrendo por entre lençóis
Que, agora, cobrem rostos
Nasceu o mais nobre do sentir
Seria a beldade
A melhor forma para seduzir?
Ou, talvez, expressões fúteis gritadas
No silêncio da troca
Ocorrida em um ínfimo espaço
De toques tortos e boca cínica
Estava feito
Preferiu o desfecho
Fechou a porta
E fez morrer o desígnio
Proclamou a saída
Para a suposta sorte atravessada
No desespero
Comeu a felicidade
Saboreou o tesão
Bebeu o sofrimento
Alheio
E vomitou ingratidão
Vagou pela madrugada
Como cão sem dono
Coração à mercê da mera ilusão
Encoberta de falsa razão
Onde já é controvérsia
Na sua própria existência, senão diploma
De melhor enganador de anseio
Ateou fogo
No momento passado
Impedindo o futuro almejado
Restaram pedaços
De lugares infiltrados
Pela estupidez
De se estar cego
Riu de liberdade
Sorriu para o vento
Que levantava os seus cabelos
Cumprimentou a vinda
De um novo tempo
Brindou de olhos fechados