Havia uma urgência.
Socorro afetivo.
Abraço instantâneo.
Amor descartável .
e degustável.
Soluvel
como nescafé.
Somos provisórios.
Mas a poesia é definitiva.
Sem rimas, sem lirismo,
sem elegância
Numa verborragia ativa
e contundente.
A nos cortar como animais.
A nos humanizar como gente.
Havia uma urgência
Palavras vomitadas no tapete.
Rimas deglutidas no café.
Lirismo engasgado na garganta.
No estômago
um improvavel alimento
finge nos nutrir de proteína.
E a dor de existir.
A latente sensação de ser passadiço
De ser o meio sem fim.
Ou, um fim sem qualquer meio.
A ponte quebrada.
A palavra quebrada.
O silêncio incinerado
As cinzas que não são phênix.
Aguarda-se um renascimento.
Novo humanismo
Novo processo.
Novo ciclo.
Novo remédio
Nova cura
para doenças provectas.
Havia uma urgência.
O amor acabou.
A paixão feneceu.
O afeto desapareceu.
Restam vínculos diluídos
em nostalgia espúria.
Reticências no olhar.
Vestígios nas vestas.
Fogo apagado na saliva.
Nas palavras que contornam
tudo e todos.
Há órbitas semânticas.
Torneiam significados.
Contingenciam-nos.
Ah, tenho urgência de silêncios
De almas repletas de conteúdo
Decifrar e não-decifrar.
De permanecer atenta
e dispersa
De navegar
a nau dos esquecidos.
Dos insones
E, prinpalmente, dos sobreviventes
que urgem
serem mortais em
plena eternidade do momento.