Charuto Que Arde
Vou escrever nada, minhas mãos pesadas
estão no ritmo do pulso lento.
Mãos cheias de vício. Dedos exaustos,
reunindo letras a esmo, algo ilegível
Se eu pensasse... talvez ainda fosse omisso.
Meu raciocínio perambula entre a fumaça
de um charuto que arde
E tenho um teclado indecifrável à minha frente,
colossal e negro.
Letras reunidas como assembleia dos sindicatos,
a querer saber o que será, aonde dói
Oras! Serei evasivo. Destilarei o vazio,
tudo aquilo que não está, e nem aqui nem acolá.
Escreverei nada pois assim acabarei inócuo.
Então deixe-me dizer sobre o vácuo,
sobre o oco e sobre o espaço.
Notaste este espaço entre nós?
Me deixe discursar sobre as áreas desabitadas.
Tanto as do peito quanto às do chão.
Sobre sombras e madrugadas.
Pois dentro de cada afeto existe um vão.