Ode desencantada
ODE DESENCANTADA
Quase cinquenta anos a caminhar contigo, Vida.
Tento recordar um só momento em que não me sentisse impotente ante a força do teu (a)braço… Mas não consigo.
As minhas recordações falam de sangue, suor e lágrimas.
E o meu currículo apenas consegue apresentar vitórias efémeras e alegrias desmaiadas.
Em mim habita um fantasma que engoliu a língua e que tenta gritar, num misto de dores de estômago e de sobrancerias destroçadas.
Além do mais, doem-me os músculos de carregar o monstro da amargura;
E dói-me o coração de tanto bater por paixões alienígenas;
E dói-me a cabeça de tanto congeminar planos inúteis, para escapar das minhas próprias teias…
Vida!... Oh, vida!...
Muitos itinerários acidentados e objectivos sempre longínquos!...
Vale a pena sonhar alto para quem têm as pernas curtas e as asas cortadas?!...
Só tenho sido feliz a espaços – quando durmo – nos céleres instantes em que caso os sonhos com os devaneios…
… Mas só mesmo até os pesadelos assumirem de novo o controlo da situação!