Ode desencantada

ODE DESENCANTADA

Quase cinquenta anos a caminhar contigo, Vida.

Tento recordar um só momento em que não me sentisse impotente ante a força do teu (a)braço… Mas não consigo.

As minhas recordações falam de sangue, suor e lágrimas.

E o meu currículo apenas consegue apresentar vitórias efémeras e alegrias desmaiadas.

Em mim habita um fantasma que engoliu a língua e que tenta gritar, num misto de dores de estômago e de sobrancerias destroçadas.

Além do mais, doem-me os músculos de carregar o monstro da amargura;

E dói-me o coração de tanto bater por paixões alienígenas;

E dói-me a cabeça de tanto congeminar planos inúteis, para escapar das minhas próprias teias…

Vida!... Oh, vida!...

Muitos itinerários acidentados e objectivos sempre longínquos!...

Vale a pena sonhar alto para quem têm as pernas curtas e as asas cortadas?!...

Só tenho sido feliz a espaços – quando durmo – nos céleres instantes em que caso os sonhos com os devaneios…

… Mas só mesmo até os pesadelos assumirem de novo o controlo da situação!

Iacoe Michaela
Enviado por Iacoe Michaela em 24/07/2018
Reeditado em 14/02/2019
Código do texto: T6399267
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