DESENLACE
E ela, bateu a porta do carro
caminhando apressada pela rua deserta...
E sua casa, que era logo ali na esquina,
ficou longe,
distante,
inacessível,
mal-assombrada,
engolindo a amada que desapareceu...
E a luz do poste, bruxuleante, tremeluzente,
que fora por tantas estações
testemunha ocular de nossos beijos e abraços,
naquela noite apagou-se, deixando a escuridão reinar.
E os céus se revestiram de um manto negro,
por onde passeavam sombras enigmáticas
de mistério e insegurança...
E eu, naquele carro solitário, me angustiava
na emoção de ainda sentir o perfume da amada
impregnando o ambiente, preenchendo-me as narinas
e propondo-me o doping, doping de amor...
E o carro, agora acionado, rodava leve, quase desgovernado,
pelas ruas desertas da cidade adormecida:
só eu me angustiava solitário na imensidão de uma cidade que não me vê!
E as lojas eram apenas vitrines decoradas de ilusão;
os edifícios, fantasmas agonizantes de esperança;
as igrejas, velhos prédios decadentes em que o amor não mais seria
celebrado visto que a amada arrebentara o elo...
E em cada semáforo aceso na noite,
a luz amarela que piscava insistente
me advertia acerca da possibilidade do amor:
- “Amor?...”
E os operários da noite que faziam a limpeza das ruas,
trabalhavam estrepitosos, tornando a sina diversão,
enquanto meu coração descompassado
caminhava para a célebre solidão dos rejeitados,
até que um pneu furou e tive que decidir:
- “Troco ou abandono o carro e vou a pé para lugar nenhum?”
Queria tão-somente encontrar um estacionamento
para meu coração largado na vida!