O FINDAR DE UMA NOITE DE ILUSÕES
Hoje o nosso mundo acordou em celebração,
Inflamando por todos os rincões
Extrema e desordenada agitação
E uma esperança fundada na incoerência.
Na verdade não existe comemoração
De nenhuma conquista importante
E de nenhuma justiça sendo propagada
Em prol de alguma melhora social significativa.
Enfim, nem sequer as pessoas
Estão plenamente mais felizes do que outrora.
Subsiste apenas a velha euforia que tomou conta
De multidões de pessoas de falsos sorrisos,
De multidões contagiadas pela mesma emoção;
Pois muitos já se esqueceram
(Com as suas anestesiantes distrações
E com as suas preocupações superficiais de sempre)
O quão presos estão diariamente
Nas armadilhas de uma falsa felicidade
E na desolação da ausência de sentido
Que faz crescer os fantasmas do absurdo.
Hoje é um dia em que não há motivos para festejar,
Pois o desespero, bem como as necessidades
Que sempre tornam os homens carentes e incompletos,
Ainda assolam os semblantes
Daqueles que se mantêm adormecidos
Na letargia dos prazeres mais fugazes
E no excessivo furor de suas licenciosidades.
Mesmo assim, reinam os grandes espetáculos
Transmitidos pelos sedutores meios de comunicação
Com as suas fantasmagorias, notícias e apelos.
Rojões e bombas explodem aqui e acolá,
Buzinas e gritos são vociferados
Em quase todos os lares,
Ardendo cada vez mais o calor infernal
Das comemorações de tantas almas vazias.
Ao longe ecoa uma algazarra tão barulhenta e insensata!
E ao longo desses dias turbulentos
Ficam ainda mais esquecidos os animais aflitos
E as dores de tantas vidas humanas que sofrem
Incessantemente nas mazelas do descaso.
Incrivelmente, um dia tudo termina:
Então as pessoas precisarão encarar de frente
As dores de suas preocupações cotidianas
E também as aflições de suas labutas exaustivas.
Uma noite de euforias e festas se esvai
Como a água de um rio ressequido pelo estio,
Abrindo caminho para um escaldante alvorecer
De aborrecimentos incontáveis
E de ânsias profundamente desesperadas
Para ganhar o pão de cada dia.