O ALENTEJANO
Na planície semidesértica e quente
Onde a dureza é pão de cada dia,
Quanta angústia se expressa e sente
Nos tristes cantes cheios de melodia.
Na alma carrega impressa desventura
Que o persegue, negando-lhe o pão,
Nas entranhas abafa sonhos de ventura
De mágoas cheios e grande desilusão.
O sol aquece na charneca despida,
Torrando a terra e tisnando o rosto,
A razão verga-se ao peso da vida
Na ceifa diária dum pão sem gosto.
Vitrais multicolores brilham no suor
Do rosto tisnado pela acalorada estival,
Mil brilhos reflectem o esforço e a dor
Do amargo desespero dum mundo fatal.
Garganta seca e olhos lacrimejantes
Rega a terra de ardentes fornalhas
Vergado pela fadiga e suores abundantes,
Sonhando fartura, vencendo batalhas.
As palhas ceifa do trigo alourado,
Enchendo de fardos o calcinado chão,
A charneca fica com tom amarelado,
Despida do trigo e envolta em solidão.
O alentejano sonha fugir à melancolia
E esquecer as agruras e os dissabores,
Luta com desespero, combate a agonia
Na esperança futura de dias melhores.
Exausto e alquebrado pela dura labuta
Olha com saudade a planície imensa
O homem que não verga e persiste na luta
De desbravar a charneca agreste e extensa.