O ALENTEJANO

Na planície semidesértica e quente

Onde a dureza é pão de cada dia,

Quanta angústia se expressa e sente

Nos tristes cantes cheios de melodia.

Na alma carrega impressa desventura

Que o persegue, negando-lhe o pão,

Nas entranhas abafa sonhos de ventura

De mágoas cheios e grande desilusão.

O sol aquece na charneca despida,

Torrando a terra e tisnando o rosto,

A razão verga-se ao peso da vida

Na ceifa diária dum pão sem gosto.

Vitrais multicolores brilham no suor

Do rosto tisnado pela acalorada estival,

Mil brilhos reflectem o esforço e a dor

Do amargo desespero dum mundo fatal.

Garganta seca e olhos lacrimejantes

Rega a terra de ardentes fornalhas

Vergado pela fadiga e suores abundantes,

Sonhando fartura, vencendo batalhas.

As palhas ceifa do trigo alourado,

Enchendo de fardos o calcinado chão,

A charneca fica com tom amarelado,

Despida do trigo e envolta em solidão.

O alentejano sonha fugir à melancolia

E esquecer as agruras e os dissabores,

Luta com desespero, combate a agonia

Na esperança futura de dias melhores.

Exausto e alquebrado pela dura labuta

Olha com saudade a planície imensa

O homem que não verga e persiste na luta

De desbravar a charneca agreste e extensa.

José Rafael
Enviado por José Rafael em 26/10/2005
Código do texto: T63853