RETORNO

Nessa distância que me contém

Diante do imenso deserto sufocante

Eu avanço passo a passo e construo

As ruas que sonhei ontem à noite

Rastejo-me por campos verdejantes

Emoldurados por colinas infelizes

Meu sopro virulento dissolve a vida

Que resta diante dos meus olhos

Não sei definir o que me move

E se são lágrimas quando chove

Mas sei que meu existir é um peso

Se não consigo versejar sobre flores

Daqui a alguns quilômetros espera-se

Pelo meu retorno depois de séculos

Alguns braços estarão abertos

Algumas mãos estarão cerradas

Eu me movo lépido, com cuidado

Nenhum mato pode ficar amassado

Não quero deixar nenhum rastro

Do meu cansaço e da minha ruína

Sigo a direção que o sol me aponta

E vasculho os respingos da noite

Em busca de uma migalha de amor

Para ofertar se acaso eu encontrar

Alguém que ame o que resta de mim

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 20/05/2018
Código do texto: T6341816
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