RETORNO
Nessa distância que me contém
Diante do imenso deserto sufocante
Eu avanço passo a passo e construo
As ruas que sonhei ontem à noite
Rastejo-me por campos verdejantes
Emoldurados por colinas infelizes
Meu sopro virulento dissolve a vida
Que resta diante dos meus olhos
Não sei definir o que me move
E se são lágrimas quando chove
Mas sei que meu existir é um peso
Se não consigo versejar sobre flores
Daqui a alguns quilômetros espera-se
Pelo meu retorno depois de séculos
Alguns braços estarão abertos
Algumas mãos estarão cerradas
Eu me movo lépido, com cuidado
Nenhum mato pode ficar amassado
Não quero deixar nenhum rastro
Do meu cansaço e da minha ruína
Sigo a direção que o sol me aponta
E vasculho os respingos da noite
Em busca de uma migalha de amor
Para ofertar se acaso eu encontrar
Alguém que ame o que resta de mim