O CISNE E O CORVO
És belo, és alvo, és puro
A plumagem personifica tua beleza
Tua cor tonifica tua clareza
E teu gesto qualifica tua pureza
A rainha que te protege
E o povo que te venera
Quem me dera ser teu rei
Um pedacinho de ti talvez
No palco da vida dança comigo
O fim da dança é o meu castigo
E agora sei que estou em perigo
Dentro de mim se forma um vazio
Atrás do palco meu mundo é sombrio
No escuro atrás da cortina
Desponta uma forte neblina
Eis que surge algo de batina
Desmonta a mim de rapina
E o branco de ti se desfaz
És só preto dum satanás
Correr já não tenho pra onde
Eu te chamo e você não responde
Teu Apolo, que pena não sou
Mas se fosse te traria de volta
À brancura que outrora foi tua
É tormento demais, não resisto
Duas faces, não dá, eu desisto
Não contava com esse imprevisto
O meu coração se desprende
Vê se a mim compreendes
Quando a cortina se abrir
Da plateia vou me despedir
Ato que eu mesmo regro
Para sempre, adeus, alvinegro.