Em busca da completa inexistência

Imagina que, quando criança, não queria viver até os vinte anos

Esperava que não alimentasse grandes sonhos e planos

Pois vivia com pensamentos de morte insanos

E, agora, passados os vinte anos, continua meio viva

Sem vontade de viver, mas sem coragem de se matar: está aflita

Ela não tem alma e seu coração não palpita

E o que a impede de realizar tarefas cotidianas é essa vontade

De querer se sentir viva, mas não conseguir de verdade

Pois tudo o que sente é melancolia, solidão e saudade

E nada nem ninguém pode salvá-la desta realidade

A cada dia ela tenta enxergar outras possibilidades

Desenterra forças e finge sobriedade

Mas esta existência (ou inexistência) cansa

É enfadonha e triste, muito trágica e insana

Cada vez mais difícil enquanto a 'vida' (há vida?) avança

A cada dia, pedaços de mim vão caindo

Partindo-se de mim e um caminho na terra abrindo

Vão morrer ali enquanto morro sozinha n'outro caminho

Então, quando isto acontecer, não mais existirei

Estarei completa estando inexistente... para isso caminharei

A cada passo, uma distância a menos que percorrerei

E é isto o que me preencherá: o meu próprio vazio

Ainda me incomodo com ele, pois é meio quente e meio frio

Até que esteja completo e seja apenas um, por inteiro, por um fio