OS PALCOS DO MUNDO

“No Dia Mundial do Teatro”

São grandes e vistosos os palcos do mundo

Onde actuam a cada hora – dia após dia –

As Vidas, separadas por um fosso profundo

Co´ as dores e os prazeres fazendo companhia.

Enormes e vistosos, quais feiras de vaidade,

Os seus actores bem díspares, d´aura semelhantes;

Representações tristes de dúbia qualidade,

Em desfile d´ actos temporais e alternantes.

Diz o poeta: “vemos, ouvimos e lemos,

E jamais poderemos, por certo, ignorar”:

Tantas desigualdades que jamais tivemos

Com violências recorrentes de espantar.

Sofrem os pais e as mães pra conseguir o pão

Enquanto alguns vão consumindo até esbanjar;

Sofrem seus filhos sem nenhuma condição

Enquanto há filhos d´ algo só a vegetar.

Sofrem os pobres e indigentes sem terem mesa

Enquanto há usuários abusando de banquetes;

Uns, sem terem tostões, morrendo de fraqueza,

Outros, gozando alegres, e a lançar foguetes.

Sofrem as gerações que não têm futuro

Enquanto há quem faça alarde d´ ostentações;

Uns, vão sobrevivendo a tactear no escuro,

Outros, vão cirandando, sem limitações.

Sofrem ao desabrigo todos os sem-casa

Enquanto outros com fortalezas e castelos;

Uns, penando ao relento sem ter lar nem brasa,

Outros, em dia e noite, à luz de sete-estrelos.

Sofrem os refugiados da explorada terra

Enquanto outros se vangloriam no poder;

Uns, carne de canhão para a selvática guerra,

Outros, cada vez mais, com armas e a crescer.

Sofrem os que são vítimas da traficância

Enquanto outros se transformam em bilionários;

Uns, continuam escravos na sua militância,

Outros, em farta presunção e perdulários.

Sofrem os que não têm acesso à Cultura

Enquanto outros se gabam por serem génios;

Uns, sentem-se explorados em fel e amargura,

Outros, dominam a cada hora por convénios.

Palcos do mundo, aqui e além em todo o lado,

Senhores, poucos, com fortuna em demasia,

Servos e pobres, maltratados como gado:

Todos filhos de Deus, mas só por fantasia.

Se os Maiorais quisessem tais Palcos não havia

E um Mundo Novo tornar-se-ia mais risonho,

Porém abunda neles o egoísmo e a hipocrisia

E a Paz que se anseia não passa de mero Sonho.

Palcos do mundo, palcos de filhos de Adão,

Actores a contracenar, mas por vezes a fingir…

No Dia Mundial do Teatro, sim ou não,

Digam-no as Plateias, quase sempre a dormir!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 28/03/2018
Reeditado em 28/03/2018
Código do texto: T6292785
Classificação de conteúdo: seguro