Refrigério

Eu tento chorar,

Mas a radiação do meu Smartphone

Secou todas as minhas lágrimas.

Eu quis te dizer o quanto

Meus dias estavam errados

E que eu precisava de ajuda,

Desesperadamente

Só que eu estava ocupado

Jogando.

Eu me troquei por um jogo

E o virtual

É meu prostíbulo individual.

Enquanto seguro algumas centenas

De metal e lítio,

Com simplórias partículas

De caos em conserva,

Aniquilo o sujeito que luta

Pra viver em mim.

Eu arranco a voz opaca dele

Com um clique em uma

Notificação surpresa,

E silencio a traquéia

E o grito latente

Com alguma publicação idiota,

Envolvente.

Desse lado da tela

Os minutos se casaram comigo

E eles levaram o para sempre

Muito a serio, aliás.

Sou um mar agitado.

A esperança que fugiu do meu cais.

Sufoco com punho de gelo cortante

O rapaz aflito e medroso

Que grita socorro,

Se é de propósito

Ou um estrado de transe

Não sei te dizer.

Só sinto que não sinto você.

Se o tal menino de mim

Vai continuar a gritar,

Eu não sei.

Só suponho que estarei aqui

Mesmo quando eu me tornar

Como um surdo

Ou a garganta dele sangrar.

E eu vou ser só um vilão

E ele uma lembrança distante,

Voz esquecida

E alma despida

Que morreu de tanto chamar.

O Não Poeta
Enviado por O Não Poeta em 08/03/2018
Código do texto: T6274397
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