Refrigério
Eu tento chorar,
Mas a radiação do meu Smartphone
Secou todas as minhas lágrimas.
Eu quis te dizer o quanto
Meus dias estavam errados
E que eu precisava de ajuda,
Desesperadamente
Só que eu estava ocupado
Jogando.
Eu me troquei por um jogo
E o virtual
É meu prostíbulo individual.
Enquanto seguro algumas centenas
De metal e lítio,
Com simplórias partículas
De caos em conserva,
Aniquilo o sujeito que luta
Pra viver em mim.
Eu arranco a voz opaca dele
Com um clique em uma
Notificação surpresa,
E silencio a traquéia
E o grito latente
Com alguma publicação idiota,
Envolvente.
Desse lado da tela
Os minutos se casaram comigo
E eles levaram o para sempre
Muito a serio, aliás.
Sou um mar agitado.
A esperança que fugiu do meu cais.
Sufoco com punho de gelo cortante
O rapaz aflito e medroso
Que grita socorro,
Se é de propósito
Ou um estrado de transe
Não sei te dizer.
Só sinto que não sinto você.
Se o tal menino de mim
Vai continuar a gritar,
Eu não sei.
Só suponho que estarei aqui
Mesmo quando eu me tornar
Como um surdo
Ou a garganta dele sangrar.
E eu vou ser só um vilão
E ele uma lembrança distante,
Voz esquecida
E alma despida
Que morreu de tanto chamar.