DEPOIS DO DEPOIS, AINDA É AGORA
Num tempo que se enrosca em si próprio,
os gestos se repetem,
as falas cruzam letras,
os mesmos dedos tocam,
as mesmas velas ardem.
Num tempo que engana os relógios
pia a coruja e o urubu vigia.
Esconde-se a teia do desejo,
nascem escorpiões nas gavetas,
e fritam-se os miolos sem respostas.
Num tempo que prescinde de contagens
eu quebro a cara nas esquinas pontiagudas,
e ao cair assim de uma só vez,
um doce arrepio percorre meu corpo:
morro um pouco a cada descalabro.
A noite se fez breu de morte,
engoli em seco a minha dor.
Você empurrou minha escada
quando achou que devia empurrar!
Quem pode dizer o que te vai no coração?