DEPOIS DO DEPOIS, AINDA É AGORA

Num tempo que se enrosca em si próprio,

os gestos se repetem,

as falas cruzam letras,

os mesmos dedos tocam,

as mesmas velas ardem.

Num tempo que engana os relógios

pia a coruja e o urubu vigia.

Esconde-se a teia do desejo,

nascem escorpiões nas gavetas,

e fritam-se os miolos sem respostas.

Num tempo que prescinde de contagens

eu quebro a cara nas esquinas pontiagudas,

e ao cair assim de uma só vez,

um doce arrepio percorre meu corpo:

morro um pouco a cada descalabro.

A noite se fez breu de morte,

engoli em seco a minha dor.

Você empurrou minha escada

quando achou que devia empurrar!

Quem pode dizer o que te vai no coração?

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 27/08/2007
Reeditado em 23/05/2011
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