A JUSTIÇA PARIU UM RATO
“Em tempos de Vacinação”
Em nome da Santa Impunidade,
Revestida de um brioso tracto
Com trejeitos de honestidade,
Esta Justiça pariu um rato.
A Justiça é uma enorme montanha
Em que toda a lei busca a verdade
Mas, não a tendo, logo se entranha
Em nome da Santa Impunidade.
Fala-se às vezes em corrupção,
Em cada embrulhada o seu novato,
E há, a muito custo, justificação
Revestida de um brioso tracto.
Quer haja ou não haja pruridos
Engendra-se a complexidade,
Dando-se argumentos aos arguidos
Com trejeitos de honestidade.
Se há muitas máscaras fictícias
Depende muito de cada contrato,
Por meio de artes sub-reptícias
Esta Justiça pariu um rato.
E se entre a verdade e a mentira
Há sempre dois pratos de balança
Quem diz se o fiel põe ou tira
É, tão só, quem já o não alcança…
Carregam-se, pois, as baterias
De desentranhada espectativa,
Porque não há quem dê garantias
Anda a própria moral à deriva.
Bem co´ a Justiça por amor da lei,
Mal com a lei, por amor da Justiça;
Se o povo acredita em toda a grei
Ela acabará por lhe ser submissa.
Há procuradores e há juízes,
Há advogados e desembargadores,
(E se houvesse mais aprendizes
Não haveria tantos corruptores…).
Diz a Justiça, em acto de contrição,
“Como nos é penoso administrar
A grande tarefa da nossa missão:
Novos estatutos têm de nos dar!”
(Diria, à Brecht, a quem de direito:
S´ esta Justiça tem coisas más
Dizei ao trigo, sem nenhum despeito,
“Sem Justiça, pra baixo crescerás!”)
Ai, ó ratos, para que vos quero?
Tão só, porque em leis passageiras,
Não há «sistema legal» sincero
Que nos proteja das ratoeiras.
Que venha já a Vacinação,
A quem devemos prestar preito,
E acabe-se de vez co´ a ficção
Para que haja moral e respeito!
Frassino Machado
In ODIRONIAS