Destroços
O vento está batendo na janela.
Está tentando entrar.
Mas eu não vou permitir.
Nada e nem ninguém vai entrar.
Não depois do que aconteceu.
O vento é traiçoeiro.
Ele traz e leva.
Traz sem avisar.
E leva sem pedir.
Você chegou sorrateiro.
Permaneceu sem avisar.
Mal sabia eu que estava no olho do furacão.
Sua confusão me bagunçou.
Seu caos me invadiu.
Me feriu.
Estraçalhou.
Lágrimas escorrem dos meus olhos,
enquanto tento juntar meus cacos.
Como vou me refazer?
Os cacos são tão pequenos que é difícil decifrar.
Me transformei em um confuso quebra-cabeças.
Sem uma referência da imagem montada.
Você me quebrou de tal forma.
Que amaldiçoo o dia em que nos conhecemos.
Esta sendo difícil.
Muito difícil.
Não tenha dúvidas.
Me acorrentei ao pé da cama.
Para impedir que eu saia daqui.
Não vou sair.
Não posso.
Mas como eu desejo!
Ainda não estou pronta.
Sei disso.
Meus cacos ainda são frágeis.
Não se fixaram.
Não vou permitir que me quebrem novamente.
Não vou!
Já decidi.
Olho o mundo pela janela e vejo que tudo continuou sem mim.
Aqui é tão vazio.
Tão solitário.
Nem mesmo minha companhia pode aplacar o vazio que sinto.
Meus cacos começam a fraquejar.
Sinto que vou ruir novamente.
Permanecerei aqui.
Isolada.
Juntando meus cacos.
Até que esteja inteira.
Sólida.
A mais forte estrutura que alguém possa imaginar.
Conseguem?
Pois bem, vou me tornar.