CLÁSSICA BOÊMIA
Inda que sob a luz do dia
Noturna a vida, e vária
É de minha clássica boêmia
Das fitas mais ordinárias.
Clara volúpia m'embriaga
A noite é vívida em desejos.
Ao avista-la, minha amásia
Logo vislumbro seus beijos.
Muito me disse, ela
Num entrever profundo.
Muito fiz-me, pr'ela
Ofertando-lhe o mundo.
Fez-se tudo de todos
Ela: todo o meu tudo.
De ti és muito pouco, disse-a:
De ti, eu quero muito.
Entre os mais lindos verbos
Os medos somem.
Mas dois ouvintes juntos
Nada ouvem.
E como se não houvesse
Penso, não nós haverá:
Pois entre oito paredes
Pecado não há.
O vél cortez da noite
Por fim, despede-se sem rito:
Leva-a com cacos à mão
Deixa-me sem sombra de abrigo.