CLÁSSICA BOÊMIA

Inda que sob a luz do dia

Noturna a vida, e vária

É de minha clássica boêmia

Das fitas mais ordinárias.

Clara volúpia m'embriaga

A noite é vívida em desejos.

Ao avista-la, minha amásia

Logo vislumbro seus beijos.

Muito me disse, ela

Num entrever profundo.

Muito fiz-me, pr'ela

Ofertando-lhe o mundo.

Fez-se tudo de todos

Ela: todo o meu tudo.

De ti és muito pouco, disse-a:

De ti, eu quero muito.

Entre os mais lindos verbos

Os medos somem.

Mas dois ouvintes juntos

Nada ouvem.

E como se não houvesse

Penso, não nós haverá:

Pois entre oito paredes

Pecado não há.

O vél cortez da noite

Por fim, despede-se sem rito:

Leva-a com cacos à mão

Deixa-me sem sombra de abrigo.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 15/01/2018
Reeditado em 30/03/2018
Código do texto: T6226559
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