À deriva
Deixei-me logo cedo a gostar de barcos de papel, pedia que os fizessem para esperar a chuva cair e no córrego soltá-los, deixarem ir. Brincava à tarde inteira, e ao varar do noite voltava feliz
Ao passar dos anos, tive meu próprio barco e com o leme na mão navegava sabendo, ou não, (a)onde ir, vagava sem rumo e ancorava nos portos que irradiavam luz e pessoas que se amontoavam, era meu próprio capitão
Anos se passaram, (re)encontro, ao passar pelas águas, se fez presente, novos rumos, uma outra direção, dei meu Leme, meu coração, deixei-me ser guiado então
Fechei os olhos, adormeci, não liguei para o tempo e nem à direção, meu barco estava em suas mãos. Mas as águas calmas tomaram-se revoltas, correntezas, relâmpagos, rio em fúria, quando olhei em volta estava à deriva, a água se acalmará, mas meu coração inquieto batia, não era culpa sua, talvez era minha
Em confiastes meu barco, minha direção, ou tirar sua sensatez com meus devaneios, desvarios, onde havia amor há medo, vazio
E agora à deriva sem leme, sem remos à mercê da própria sorte, esperando salvação, quem sabe redenção, ou ainda sua bússola, reciprocidade ventando numa mesma direção, levando o barco de volta para minhas, nossas mãos. (JHC, janeiro de 2018)