Apague a luz
Já deixei o palco, meu bem
e nem te apercebeste...
Andas deveras ocupado em viver Narciso...
A peça encenada
tem muitas batalhas e muitas personagens
desejando o papel principal,
despudoradamente ansiando
por conquistar o galã.
Não participo desse tipo de disputa.
Sei, na dor vivida e nas lutas passadas
quem eu sou.
No espelho do camarim me olho
e me orgulho do reflexo que vejo.
Minha trama se tece com suavidade,
à luz da verdade mais íntima
que entrego, feito precioso presente,
a quem ousar se olhar também
e se enxergar, humano e falho,
mas íntegro nos sentimentos que professa.
Ao eleito, toda a minha ternura, derramada em gotas de alfazema,
para elevar e purificar sua alma.
Com bálsamos de alecrim perfumar seu corpo amado,
como quem cuida, amorosamente, de um templo.
O amor infinito que reside em minha alma,
dedico a quem queira compartilhar os dias de sol e luz
e as noites de tempestade e angústia.
Continuo aqui, à espera, mas do lado de fora...
Já deixei o palco, meu bem.
Que ele te traga o que desejas.
Que ele seja suficiente para te acalmar o coração,
que te dê forças para viver as horas de solidão e o vazio
que pode assolar sua mente
muito tempo depois,
antes que possas se arrepender e perceber...
que eu já deixei o palco, meu bem.