DESENCANTO
O navio do meu sonho segue mar adentro agora
Acorrentado e protegido do canto sigo singrando
Não posso ouvir o canto mavioso da sereia lá fora
Açoitado pelas ondas da saudade vou chorando
Segue tocado pelo vento o triste sonho acalentado
Não tem bússola nem destino e nem cais
Apenas as marcas indeléveis no coração surrado
Apenas os suspiros profundos e os melancólicos ais
Lágrimas misturadas às profundas e turbulentas águas
A ganir pra lua espectro de ilusão desfeita
N'alma em frangalhos visível sulco de mágoas
O olhar dois buracos vazios que o nada espreita
Dor que contrapõe dias em que tudo era encanto
Voz de ternura purificando a alma extasiada
Hoje tudo se transmutou em lamento e pranto
Segue mar afora a utopia em frangalhos silenciada