Trem

O trem apontou ao longe.

Atravessei os trilhos com vontade de ficar.

Sentar na beirada e roer minhas unhas,

como se nada mais importasse;

como se a terra tivesse parado de girar

e em torno não houvesse nada senão pó.

O que busco está aqui e mais além.

Posso acomodar-me nos trilhos... aventurar-me no horizonte.

Minhas mãos também criam e destroem...

Construo minha própria Arca de Noé.

Dentro, pares de sentimentos e anseios que liberto

e entrego às torrentes de meu dilúvio.

Já não há o que fazer... A maré não baixou.

O trem se aproxima e estou nos trilhos.

Oca, sem razões, sem motivos.

E não é mais necessário mirar o horizonte.

O horizonte e o destino estão aqui. Tic tac tic tac...

E nada mais tem importância.

Fernanda Reis
Enviado por Fernanda Reis em 19/08/2007
Código do texto: T614877
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