Trem
O trem apontou ao longe.
Atravessei os trilhos com vontade de ficar.
Sentar na beirada e roer minhas unhas,
como se nada mais importasse;
como se a terra tivesse parado de girar
e em torno não houvesse nada senão pó.
O que busco está aqui e mais além.
Posso acomodar-me nos trilhos... aventurar-me no horizonte.
Minhas mãos também criam e destroem...
Construo minha própria Arca de Noé.
Dentro, pares de sentimentos e anseios que liberto
e entrego às torrentes de meu dilúvio.
Já não há o que fazer... A maré não baixou.
O trem se aproxima e estou nos trilhos.
Oca, sem razões, sem motivos.
E não é mais necessário mirar o horizonte.
O horizonte e o destino estão aqui. Tic tac tic tac...
E nada mais tem importância.