REPÚBLICA À ESPERA DE SEPULCRO
Tento não me deixar abater,
mas a revolta explode em meu peito.
Ódio! Que faz meu sangue ferver.
Tristeza! Que faz meu peito doer.
República que não tem mais jeito.
Por eles e por ela não hei de morrer.
Não há mais nenhuma esperança,
em meio a tão profanas alianças.
Boçais coronéis, embriagados pelo poder,
colocando o futuro de uma nação a perder.
Reféns do medo e da desconfiança.
Indolentes vítimas da própria ignorância.
Manipulados pelas redes de intolerância.
Eis aqui constatado: a morta jaz bem morrida,
no entanto, continuam a mastigar a sua carniça.
A espécie? Urubu do colarinho branco.
Vivemos numa sociedade enfermiça.
“_ Ora, meu senhor, lei aqui é para o pobre
e justiça é para o rico”.
“_ Mas que situação medonha”!
“_ Pois não é? O Brasil de hoje só nos faz sentir vergonha”.
A República Federativa do Brasil já nasceu morta,
no berço esplêndido onde foi concebida.
Será a corrupção o preço da democracia?
O fato é que minha desesperança é tamanha que,
mesmo sem tê-lo conhecido, bateu uma saudade
daquele tempo do Império, do imperador.
Daqueles dias em que o poeta, o escritor, era respeitado.
Dias em que o Brasil ao menos ainda sonhava...
Caros leitores: não estou aqui a clamar pelo retorno do Império. Aqui expresso apenas um sentimento poético do eu lírico, saudoso da honradez e das glórias passadas (na visão dele). Nota do autor.