SINTO QUE NÃO SOU NADA
Este meu sentir tão profundo,
De que não sou nada.
Cala bem fundo,
É uma praga.
Praga que eu tenho de matar,
Não sei como eu fazer,
Tenho de a combater,
Até a arrasar.
Arrasar não é assim tão fácil,
Há muitos obstáculos,
Que é preciso remover
Para eu não morrer.
Morrer não quero assim cedo,
Ainda mal nasceu o dia,
E já a noite ameaça,
De muita fantasia.
Fantasia com os muitos sonhos
Que me chegam d’algures,
São muitos e medonhos,
Continuo em apuros.
Apuros que a minha longa vida
Me trouxe por caro preço,
Sem o meu apreço,
Nem garantia.
Garantia que a vida não me deu,
A alguém estranho ofereceu
E me ignorou até hoje,
De que tenho nojo.
Nojo da tua má maquilhagem,
Que não disfarçou tuas rugas,
Parecem tartarugas,
Sem roupagem.
Roupagem aberrante, fora de moda,
Que eu há muito pus de parte,
Com engenho e muita arte,
Por não ser de agora.
Ruy Serrano - 05.10.2017