Cada vez menos eu me vejo aqui

Cada vez menos eu me vejo aqui

Cada vez menos eu me vejo nesse lugar onde moro e nessa casa com essa família desestruturada, mas me vejo no meu quarto porque dele eu gosto e ele já está todo decorado

Se eu pudesse, marretava o chão e arrancava o quarto e colocaria ele num caminhão.

Mas não me vejo mais em canto nenhum

Não me vejo mais nos bares sujos na beira do rio mal frequentado por gente cheia de falso romantismo

Cada vez menos eu me vejo aqui, nos espelhos, e nos reflexos da porta

Não me vejo mais nas igrejas as quais tanto ajoelhei pedindo pra algum deus ateu vir me socorrer. Eu agradecia e o "de nada" não tinha.

Cada vez menos eu me vejo na esquina brincando de correr atrás da bola; ela furou.

Cada vez menos eu ouvia palavras saírem da minha boca

e cada vez menos eu via rimas escritas pelos dedos

Eu não me vejo mais em aeroportos aguardando para ver os beijos dos passageiros

Eu não me vejo mais nas redondezas da saudade e do poema

Cada vez menos eu me vejo numa cama, descansando ou namorando

(...)

Cada vez menos eu me vejo aqui

Cada vez menos eu me vejo

Cada vez menos eu me

Cada vez menos eu

Cada vez menos

Cada vez

Cada

"Ela ficou cega, pessoal.

Podem ir pra casa!".

Thina Freitas
Enviado por Thina Freitas em 29/09/2017
Reeditado em 29/09/2017
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