ESTRANHO MISTÉRIO
“Como eu vejo o meu País”
A verdadeira imagem que eu tenho do meu País
Não é aquela que eu gostaria de ter
Mas, sim, «a realidade de um País feliz
Que fosse para todos a razão de um viver.»
Mas, por infelicidade, não é este o meu País
Ainda que saiba haver nele quem bem acredite
Ser possível um dia a todos criar raiz
Para que haja mais paixão em quem nele habite.
Quem me dera voltar a ser aquela criança
Que acreditava ser o elo de um mundo novo;
Quem me dera voltar a ser jovem de esperança
Disposto a contribuir para a nobreza do povo…
Mas, todavia, quando eu olho o horizonte
Só vejo, em todo o lado, tristeza e amargura;
Só vejo, em todo o lado, angústia em cada fronte,
Só vejo, em todo o lado, marcas de triste figura:
Fome, miséria, injustiças e exploração,
Insensibilidades e desigualdades;
Promessas ocas, incompetências e corrupção,
Ausência de valores e de qualidades;
Tábua raza pra quem é pobre e abandonado,
Desprezo vil por justos direitos e garantias;
E, quanto à autoridade, só temos observado
Que neste país se esquecem das cidadanias.
E é gritante o deserto de Cultura e Arte
E o menosprezo pelos talentos da Nação;
E a triste aridez qu´ é vista em toda a parte
Naquilo que diz respeito à básica educação.
É frustrante sentir que há espectativas
E projectos utópicos prontos pra sair;
Mas faltam as vontades sempre decisivas
Tão perto de Ourique como de Alcácer Quibir…
Quem me dera voltar a sentir aquele País
Onde há crianças, jovens e velhos e sonhos;
E onde exista, em todo o lado, aquela matriz
Que faça acreditar que virão dias risonhos…
Onde está esse País? Onde está essa ESSÊNCIA?
Onde encontrar essa Imagem e esse Critério?
Há que abater, eu sei, a ingrata resistência
Que tem bloqueado todo este estranho Mistério!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS