O abandono de um pai

Hoje estou sozinho, como sempre.

Gostaria que eles estivessem aqui,

ao menos hoje.

A solidão me abraça.

É uma sensação confusa essa de estar só.

Em que ponto da vida fiquei pra trás?

Um dia eu era esse cara

que não abraçava os filhos.

Defendia uma teoria conveniente

de que o para-casa era problema da escola.

O tempo era curto demais

para ser usado com as crianças.

Eram bons garotos, inteligentes,

obedientes e cheios de vida,

mas esse era um pai muito ocupado.

O pouco tempo que dedicava aos filhos

era oportunidade apenas para disciplinar.

A língua nem sempre é veneno fatal,

mas, usada sempre em pequenas doses,

é eficiente para destruir corações.

Então, era uma vez: os bons garotos

que se tornaram homens e mulheres de bem.

E esse cara poderia estar orgulhoso

dos filhos que criou e formou.

Mas eles não eram mais os seus garotos.

Os desse cara eram aqueles rostinhos tristes

e esquecidos deixados para trás.

Eternizados no esquecimento.

Mortos.

Assim, olho para o vazio.

Abraço a solidão.

Odlinere Oliveira
Enviado por Odlinere Oliveira em 13/08/2017
Código do texto: T6082926
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