O abandono de um pai
Hoje estou sozinho, como sempre.
Gostaria que eles estivessem aqui,
ao menos hoje.
A solidão me abraça.
É uma sensação confusa essa de estar só.
Em que ponto da vida fiquei pra trás?
Um dia eu era esse cara
que não abraçava os filhos.
Defendia uma teoria conveniente
de que o para-casa era problema da escola.
O tempo era curto demais
para ser usado com as crianças.
Eram bons garotos, inteligentes,
obedientes e cheios de vida,
mas esse era um pai muito ocupado.
O pouco tempo que dedicava aos filhos
era oportunidade apenas para disciplinar.
A língua nem sempre é veneno fatal,
mas, usada sempre em pequenas doses,
é eficiente para destruir corações.
Então, era uma vez: os bons garotos
que se tornaram homens e mulheres de bem.
E esse cara poderia estar orgulhoso
dos filhos que criou e formou.
Mas eles não eram mais os seus garotos.
Os desse cara eram aqueles rostinhos tristes
e esquecidos deixados para trás.
Eternizados no esquecimento.
Mortos.
Assim, olho para o vazio.
Abraço a solidão.