Líquido e frágil

consumimos o tempo que nos foi dado no amor

como bala que se estilhaça entre os dentes

em vez de sorver vagarosamente o sumo

o beijo

o desejo

a vontade de devorar e habitar

alucinados

intoxicados

esquecemos de semear

os delírios

os sussurros

e os dias avançaram em deserto

ferrugem e vazios

carícias derretidas

a cada dia mais transparentes

as fragilidades das noites ausentes

riscando linhas de solidão no corpo

o amor escorrendo dos olhos

dos dedos

das ruínas de um destino

que não costuramos

não plantamos

apagando gemidos

ampliando fronteiras

até a lonjura tanta

do esquecimento da pele

desgaste da paixão

a constatação apenas

das delicadas cinzas

sopradas pelo vento

e a memória

dos cheiros

dos risos

dos lábios

suspiros:

nossa maldição

Helenice Priedols