Amor de perdição
Entre anjos e demônios,
você alega que foi iludida,
amastes a besta sem perceber,
pobre donzela em perigo,
inocência perdida na cidade grande,
culpando a noite pela blasfêmia,
passeando sem pudor na cozinha do inferno,
chamando New York de casa,
e Washington de pesadelo,
pintando seus lábios de vermelho,
usando seu perfume mais fatal,
destilando o veneno da sedução,
sacando sua arma de desenganos,
atirando em corações solitários,
sorrindo à medida que as vítimas caíam aos seus pés,
vivendo de madrugada em madrugada,
pulando de cama em cama,
listando as paixões proibidas,
jogando o jogo dos vencedores,
contando histórias saboreadas num whisky cowboy,
pensando ser intocável,
dama dos perdidos e incautos,
a vida lhe ofereceu seu próprio palco,
um drama encenado de si mesma,
até ser você a prisioneira de seu reflexo no espelho,
amando loucamente um espectro extemporâneo,
chorou lágrimas de sangue,
gritou nomes ruins,
arranhou paredes,
torturando-se pela derrota,
quando os dados lhe ofereceram outros números,
desespero daquela que tinha a certeza nas mãos,
viu seu mundo desabar sem maiores explicações,
seu anjo de asas ceifadas lhe disse adeus,
disse-lhe para esquecer suas feições,
abandonou o leito sem nem esfriá-lo,
pegou a rota 66 e sumiu no mapa,
deixando-a com sua arrogância alquebrada...