MULHER DAS MADRUGADAS ( Do livro "Poemas urbanos e outros planos" )
Maquiada, produzida
E nos espelhos da vida
Vai deixando sua pureza
A bebida te entorpece
És de quem te oferece
Um lugar em sua mesa
Beijo sempre a contragosto
Mas o sorriso no rosto
O momento nunca estraga
Tuas carnes exploradas
Entre as falsas gargalhadas
Daquele que te paga
És do moço, do banqueiro
Da casada, do solteiro
És escrava a se vender
Mas num quarto ou num carro
Entre doses e um cigarro
És a dona do prazer
E nos cínicos gemidos
Corações endurecidos
Amolecem, juram amor
Mas se vai o sentimento
Quando cobras pagamento
Ao frustrado ex-senhor
Finda a noite, chega o dia
Desmorona a fantasia
Maquiagens retiradas
O espelho, tristemente
Mostra o rosto inocente
Da mulher das madrugadas.