FARSA

FARSA

Plantei flores na minha sacada,

Quis cantar para a cidade nua,

Na sala de estar só cadeira crua,

Sou interrompido pela chamada...

Madeira a balançar a fantasma,

A fêmea que só viu as suas crias,

Agora morta já com as filhas frias,

Posso às vezes a ver como plasma...

Crias fêmeas como a tal fêmea.

Sou farsa perante o espelho nu,

Sou tolo, eu queria ir com o anu,

Ela partiu assim minha alma gêmea...

Queria ter o ritmo da Marisa,

Bela Marisa que tem voz bela,

Não cuido mais de mim sou dela,

Ela que amava Marisa e foi na brisa...

Eu sou a farsa da sociedade crua,

Crua, nua, fêmea e sou só reflexo.

Eco de uma estética eu sou convexo

Querendo morrer, tchau vida tão nua...

Não sou fêmea, não tenho a cria,

Não produzo nada e sobrevivo assim,

Assim triste nu, assim como o fim,

Nu como cordeiro e com morte fria...

Sou farsa de espelhos e das pessoas,

Na sala a solidão e na encruza ventos,

Cadê santos e Jesus para os acalentos

Imagino partir indigente nas Lagoas...

Perdi a fé em tudo e em todos e sofro,

Não me preocupo mais em viver e ser,

Não me preocupo em ser feliz ou ter,

Quando choro e na chuva fria e corro...

Sobrevivo, dou risadas amarelas e sou,

Sou vermelho como a hemorragia fria,

Sinto-me sozinho como solista que cria,

Quero viver e não sobreviver ou sou voo...

Como quero ficar jogado na minha sala...

Sala de estar que não é meu sonho...

Sala de jantar improvisada, sem sonho...

Perante minha vida sorrio e a alma cala...

Tudo que sonhei ficou para trás morto,

Meu anjo não tem asas e talvez seja torto.

Quero morrer como a borboleta de olhos belos,

Dilacera-me no massacre dos cutelos...

Ela morta como o olhar verde na caatinga,

Eu morro aos poucos no sabor de uma pinga.

Interpretar o surreal é se olhar para espelho,

Analisar a obra como se fosse só um pentelho.

Para o poeta nu é vestido de preto na morte,

Estar vivo e sobreviver são o azar e não a sorte.

Vestido de palhaço num velório alegre e belo...

O preto para o poeta é sua arma e não flagelo...

Na morte quero ir de bermuda e bata indiana

Pelo amor de Deus, sem terço, mas com Jazz,

Caipirinha de vodca para as carpideiras belas

Tequila para os amantes de bocas sedentas

Esqueça a rima, a métrica e enterre rápido.

E todos com cores alegres falando de mim...

Não serei mais farsa, pois no papel eu sou.

Sou apenas cadáver buscando o que há além...

André Zanarella 06-06-2017

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 06/06/2017
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