CLAMOR
Ó noite sem sono
Cheia de amargura!
Calada, sem dono,
Minha alma tortura.
Talvez pelo fato
De um corpo mulato
Ter morrido de frio,
Deixando a tristeza
Sem vida e beleza
No meu peito vazio.
Ó estrela do céu
Que brilha na aurora!
Meu corpo ao léu
Te pede, te implora...
Que lance tua luz
Na imensa cruz
Que carrego aqui.
Como a fauna e a flora
Minha alma chora
Precisando de ti.
Ó vento assassino
Que assobia profundo!
Não trace o destino
Do pobre Raimundo.
Devolva a vida
Magoada e ferida
Ao corpo esguio.
Se houvesse alguém
Que o acolhesse tão bem
Você não matava de frio.
Ó coração infeliz
Que no peito palpita!
Está por um triz
Tua vida maldita.
Procure ajudar
Em qualquer lugar
Tudo que é teu.
Por falta de um agasalho
Debaixo do orvalho
Teu próximo morreu.