PALAVRAS
Viver
algumas vezes
é não morrer
Morre até
quem pensa
viver
Se em vez de viver
apenas sobrevive
Palavras
lá vem vocês
Cultas
cheias de empáfia
como se fossem
definitivas
Complexas
em seus acentos
interrogações
exclamações
na certeza eterna
de um ponto final
Fui feito
para ser
um ser
imperfeito
Sujeito raso
fingindo
ser profundo
Eu tento
mas a cada momento
é tempo de errar
Estou sozinho
num bar
bebendo uma garrafa
de vinho
As rimas vão ficando
pobres e forçadas
Anseio pela brisa gelada
mas vivo no inferno
não no inverno
Já nem sei
porque escrevo
Carência e demência
se esfolam por um lugar
no altar
de um reino sem rei
Sou um catalisador
de coisas ruins
A bondade
que se disfarça em covardia
Vou escrevendo
As palavras vão se equilibrando
num amontoado de ideias pobres
Não sirvo bem pra ser reciclável